Grupo de trabalhadores em frente a fábrica durante o protesto realizado na manhã desta sexta-feira, dia 5 |
Na próxima semana, por orientação da gerência da fábrica, a grande maioria dos funcionários deve ficar em casa, pois não há matéria-prima para fabricar as baterias e a empresa de ônibus que transporta os trabalhadores vai parar de atender à Satúrnia por falta de pagamento.
Além disso, a Satúrnia tem atrasado os depósitos de FGTS dos funcionários, que também tiveram o convênio médico cortado por falta de pagamento por parte da empresa.
Com problemas de crédito no mercado, há risco inclusive de atraso na produção de uma bateria para submarino encomendada pela Marinha Brasileira.
Segundo o Sindicato, recentemente a Marinha liberou R$ 1,7 milhão para a Satúrnia como adiantamento pelo produto, que custa aproximadamente R$ 12 milhões e demora seis meses para ser fabricado.
Além de baterias para submarinos, a Satúrnia fabrica também baterias industriais, para o sistema de metrô, transporte ferroviário em geral e telecomunicações, entre outras.
Protesto e reuniãoA planta da Satúrnia de Sorocaba fica no bairro Iporanga, local de pouco fluxo de trânsito e, portanto, baixa visibilidade pública. Mesmo assim, na manhã de hoje, sexta-feira, dia 5, trabalhadores e Sindicato realizaram um primeiro protesto em frente à fábrica. Por duas horas, eles expuseram faixas que denunciavam as dívidas da empresas, os atrasos de salários e encargos e a falta de comunicação com os acionistas da Satúrnia, que faz parte do grupo ALTM, do Rio de Janeiro.
Ainda na sexta, à noite, os trabalhadores se reuniram na sede do Sindicato dos Metalúrgicos para definir os rumos do movimento.
Prefeitura
Na última quarta-feira, dia 3, diretores do Sindicato dos Metalúrgicos, juntamente com o vereador Izídio de Brito (PT), reuniram-se com o secretário de Desenvolvimento de Sorocaba, Mário Tanigawa, para expor o problema e pedir apoio da prefeitura.
"O secretário disse que o governo municipal [do prefeito Vitor Lippi - PSDB] não pode interferir em assuntos da iniciativa privada, mas que convidaria diretores da Satúrnia para conversar sobre a crise na empresa e suas perspectivas de mercado", explicou Alex Sandro Fogaça, dirigente sindical e funcionário da Satúrnia.
"Mas já é sexta-feira, os salários continuam atrasados, os acionistas da Satúrnia e ALTM não dão satisfação para ninguém, a produção está parada porque a empresa não tem mais crédito no mercado", indigna-se o diretor do Sindicato.
TradiçãoA Satúrnia tem 80 anos de mercado, mas já trocou de mãos diversas vezes. Até o início dos anos 80, a fábrica estava instalada na cidade de São Paulo, quando então se transferiu para Sorocaba. Na época, a empresa fabricava também baterias automotivas e tinha como carro-chefe a marca Heliar.
Em meados dos anos 90, houve uma divisão entre os setores de baterias industriais e de baterias automotivas.
A produção de baterias automotivas trocou de donos diversas vezes, mas continua forte no mercado e hoje é controlada pela Johnson Controls, que tem sua fachada voltada para a movimentada avenida independência, na zona industrial de Sorocaba.
Já o setor de baterias especiais, que mantém o nome Satúrnia, sofreu uma divisão inclusive física. Sua entrada hoje fica no bairro Iporanga e faz divisa com os fundos da Johnson Controls.
Na época, a Satúrnia foi vendida para o Grupo Brasileiro Sul América de Seguros, que a revendeu para um grupo Inglês BTR/Hawker. No final dos anos 90, a então Satúrnia Hawker foi vendida para o grupo norte-americano Eaton, que poucos anos atrás a revendeu para o grupo ALTM