A frase é de Michael Hudson, professor de economia na universidade do Missouri (EUA) e analista em Wall Street. Ele fez a afirmação durante palestra no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão que auxilia a Presidência da República.
O professor ataca duramente a lógica rentista que, ao inserir dinheiro falso nas economias nacionais, pretende se apropriar do excedente produtivo dos países através da venda de títulos de outras nações, especialmente as do Norte.
Hudson discorre também sobre o modo como os EUA se endividaram internamente, ao estimular o crédito emitido “contra” casas ou companhias inteiras – a conhecida hipoteca sem fim. Leia este trecho: “a maior parte dos empréstimos da banca comercial simplesmente anexam dívida a activos existentes (acima de tudo, imobiliário e infraestrutura) ao invés de serem investidos na criação de novos meios de produção, ou para empregar trabalho, ou mesmo ganhar um lucro. Os bancos preferem emprestar contra activos já existentes – imobiliários ou companhias inteiras”.
Ora, a compressão da massa salarial da maioria dos trabalhadores dos EUA, somada à cultura consumista daquele país, levou muitos dos assalariados a querer comprar e, frente ao baixo poder de compra dos salários, a colocar seu patrimônio pessoal como garantia para a obtenção de créditos.
Coisas assim levaram o mundo à crise de 2008.
Por isso, recomenda Hudson: “No século XIX o sistema americano de economia política estava baseado, corretamente, na percepção de que trabalho altamente pago é mais trabalho mais produtivo, assim como o trabalho bem-educado, bem alimentado e bem vestido supera o trabalho “paupérrimo”. A chave para a competitividade internacional é portanto a elevação de salários e padrões de vida, não o seu rebaixamento.
Isto é especialmente o caso do Brasil, dada a sua necessidade de elevar a produtividade do trabalho pela melhor educação, saúde e sistemas de apoio social se quiser prosperar independentemente no século XXI.
E se for para elevar o investimento de capital e padrões de vida libertos de serviço de dívida e de preços mais elevados de habitação, o Brasil precisa impedir que o excedente da economia seja transformado num “almoço gratuito” na forma de renda da terra, renda de recursos e renda de monopólio – e salvar este excedente económico de banqueiros que procuram capitalizá-lo em pagamentos de dívida. Isto é melhor conseguido tributando o potencial rentista que transforma o excedente em encargo desnecessário”.